A infeliz campanha da Igreja do pastor Juanribe Pagliarin: "2012, o ano da totalidade"

Por Cristiano Santana

Durante meu trajeto para o trabalho, costumo ouvir vários programas de rádio. Chamou-me a atenção o anúncio da igreja Paz e Vida, na Rádio Melodia, com a seguinte declaração:

"2012, o ano da totalidade. Venha buscar o seu projeto de vida na Paz e Vida e realizar todos os seus sonhos"

A proposta da campanha

Procurando evitar um julgamento precipitado, acessei o site da Paz e Vida com a finalidade de obter informações que me ajudassem a definir com mais precisão o sentido do termo "totalidade" no contexto do anúncio que tinha sido veiculado.

Então deparei-me com algo que confirmou o meu receio. O anúncio da rádio foi reproduzido no site  num "banner" dinâmico, cujas imagens sozinhas diziam tudo: carro com fita de presente, apartamentos, mansões, lojas comerciais, até sacos de dinheiro.

Concluí então que totalidade almejada se traduz na satisfação total e absoluta de todos os nossos desejos, a concretização material de todos os nossos anseios. Confiando nessa possibilidade, o pr. nos estimula a exercitar a fé com o intuito de concretizar TODOS os nossos sonhos no ano de 2012.

Mas, a pergunta que surge é a seguinte: A conquista dessa totalidade é algo possível?

Apenas um pouco de reflexão é suficiente para concluirmos pela inviabilidade dessa proposta. Veremos que o ano da totalidade é uma meta inatingível empiricamente, subjetivamente e biblicamente.

A impossibilidade empírica da noção de totalidade

Empírico é algo que tem relação com a experiência, com a realidade. Obter tudo que desejamos significa conquistar a plena felicidade. Segundo Kant, a felicidade "é a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com a sua vontade" (Crítica da Razão Prática, Dialética, sec. 5). Assim, a totalidade seria um estado de satisfação devido à situação no mundo. Isso é empíricamente impossível, irrealizável. De fato, não é possível que sejam satisfeitas todas as tendências, inclinações e volições do homem, haja vista as incertezas do dia-a-dia, a imprevisibilidade dos acontecimentos e a fragilidade da existência humana frente a este mundo que nos cerca de tantos perigos, preocupações e frustrações. Se o conteúdo da campanha fosse "venha buscar o seu projeto de vida e realizar ALGUNS de seus sonhos, até seria aceitável, mas TODOS os sonhos nem Alice nos país das maravilhas conseguiu!

A impossibilidade subjetiva da noção de totalidade

Subjetivo é aquilo que tem relação com o sujeito, com a interioridade. A vontade de ter as coisas nasce dentro do coração do homem e está sempre ligada à mutabilidade e expansividade dos desejos. Como consequência, as necessidades e inclinações do homem nunca se aquietam no repouso da satisfação. Se consigo uma bicicleta, passo a desejar uma moto, depois um carro, um helicóptero, um jatinho e finalmente, uma nave espacial. Praticamente não há como medir a totalidade daquilo que necessito para me sentir realizado. Amanhã, por exemplo, poderei sentir a necessidade de possuir algo que agora não está na minha consciência. Igualmente, poderei na próxima semana sentir uma certa repulsa por algo que desejo hoje. Dessa forma, estamos condenados, nessa mundana existência, a obter apenas uma fração daquilo que achamos que precisamos para ser felizes. Não existe um todo para a subjetividade, simplesmente porque ela não pode ser medida. "Todo o trabalho do homem é para sua boca, e, contudo, nunca se satisfaz a sua cobiça" (Eclesiastes 6:7). 

A impossibilidade bíblica da noção de totalidade

A Bíblia está repleta de passagens que nos desencorajam a buscar a totalidade, a felicidade total. O próprio Senhor Jesus nos declara que "no mundo tereis aflições" (João 16:33). Paulo também sempre teve consciência das "aflições do tempo presente" (Romanos 8:18), ele, cuja vida foi exemplo de sofrimento do início ao fim. Somos melhores do que ele? O autor de Eclesiastes, aparentemente tinha conseguido tudo o que desejava: prazeres pessoais, riquezas e glória, sabedoria, etc.Porém, sentindo uma incômoda e desconcertante sensação de incompletude, nos declara que "tudo é vaidade e aflição de espírito". "Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento." (Eclesiastes 9:2). Alguns cristãos às vezes ficam perplexos quando ocorre uma tragédia com um irmão que sempre deu bom testemunho. A vida é isso, uma aventura arriscada do princípio ao fim. Como dizem, para morrer basta estar vivo. A única verdade nisso tudo é que, não importa a intensidade das aflições, Cristo nos garante que venceremos esse mundo tenebroso. Trata-se da vitória da fé, não da vitória financeira. Com essa fé Policarpo venceu quando estava sendo queimado vivo na fogueira.

Conclusão 

Não pretendi aqui apresentar um quadro sombrio e pessimista da vida, como se não tivéssemos o direito de sentir satisfação e alegria. Mas a supervalorização da satisfação pessoal conduz a uma vida egocêntrica e consequentemente vazia. A valorização do "ter" em detrimento do "ser" é como uma sentença de morte para a alma. É preciso aceitar que a alegria é possível mesmo com o pouco. Na verdade o fim que o cristão deve buscar é a bem-aventurança, uma virtude que pode ser alcançada sem dependência da situação financeira do que a experimenta (leia aqui). Que Deus conscientize os líderes evangélicos para que estimulem as pessoas a buscarem a totalidade da SALVAÇÃO.

Levy Barros Videomaking

Autor & Editor

Levy Barros é Youtuber Cristão, Cantor, Compositor e Pregador da Palavra de Deus.

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